11/05/2020 14:45

Bancários têm jornada exaustiva de até 14h por dia e relatam medo e ameaças

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Acesse as redes da Apcef/RJ:

 

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Infelizmente, mesmo com todas as cobranças feitas pelas entidades representativas, a jornada dos bancários não tem sido fácil. Em recente matéria feita pelo Jornal Extra, funcionários da Caixa relataram a falta de descaso do banco. Muitos contam que estão trabalhando até 14h por dia, que ainda há demora no recebimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e falaram das ameaças que sofrem no dia a dia.

O Presidente da APCEF/RJ, Paulo Matileti, falou sobre o desrespeito: “Há meses, a APCEF/RJ, os sindicatos e os representantes dos trabalhadores, estão reivindicando a divulgação de mais informações sobre o auxílio para a população e novas medidas para serem implementadas pela Caixa. O banco necessita de realizar um novo planejamento quanto ao atendimento nas agências, visto que a vida desses trabalhadores e dos clientes estão cada vez mais expostas. Além disso, essas horas extras precisam ser remuneradas em 100%!"

O Jornal Extra disponibilizou o depoimento de alguns funcionários, que preferiram não se identificar. Veja abaixo:

F. (Gerente de uma agência no Rio)

— Tivemos um volume absurdo de cadastros. Várias pessoas que não tinham o direito se inscreveram para ver se conseguiriam receber na malandragem. Isso torna ainda mais lenta a análise feita pela Dataprev (empresa de processamento de dados do governo federal). Outro problema é que o cidadão, que precisa receber de verdade, é simples e não tem acesso à internet. Ou, então, não sabe como acompanhar o andamento da solicitação online. Aí vai todo mundo para a fila e sobra para o bancário, que está na linha de frente, explicar como funciona o aplicativo ou se a pessoa tem direito ou não. Apesar de eu estar em home office por integrar o grupo de risco, acompanho relatos dos colegas. Acho que o governo deveria ajudar mais: a prefeitura, controlando as filas do lado de fora das agências, e o governo, disseminando amplamente como acompanhar o pedido sem precisar sair de casa.

L. (Gerente de uma agência no Rio) 

Quando começou essa operação, eu trabalhava das 9h às 16h, sem parar para comer nem para ir ao banheiro. E só piorou. Foram pedindo para chegar cada vez mais cedo. Agora, tenho que chegar às 7h para tentar reduzir a fila. Percebo que a maioria das pessoas não deveria estar lá, mas está porque não consegue usar o aplicativo ou não entende como utilizá-lo. Não acho que seja um problema de comunicação. É que as pessoas não acreditam, querem ir à agência e falar com alguém. Depois que eu explico, dizem: “Ah, bem que me falaram que era só isso”. E controlar essa fila de várias pessoas nervosas é muito complicado. E não é nossa função evitar essa aglomeração. A polícia quase nunca está no local para nos ajudar. Outro problema é juntarem a liberação do auxílio com outros pagamentos. Tenho atendido muitos casos de FGTS, por demissão. E, na maioria das vezes, não e preciso, porque se pode sacar até R$ 10 mil pelo aplicativo do FGTS, que não está com nenhum problema.

R. (Caixa de uma agência no Rio) 

Nós estamos em uma situação muito complicada, porque quem está na fila não entende que nós, bancários, não temos culpa de o cadastro não ter sido aprovado ou da lentidão na análise. Outro dia, em uma agência aqui do Rio, invadiram a sala de atendimento com um pedaço de madeira. Também já aconteceram agressões: vi um colega ser pego pela camisa porque não liberou um pagamento para uma pessoa que estava sem documento de identificação. Não podemos ser massacrados dessa forma. Também temos família e estamos fazendo nosso melhor para ajudar essas pessoas. Além disso, estamos com muito medo. Não sabemos se vamos pegar coronavírus hoje ou amanhã. Já perdemos colegas, e há alguns no hospital. Apesar de usarmos máscaras, a agência é um local fechado. A estafa mental é absurda.

P. (Gerente-geral de uma agência no Rio)

Estamos trabalhando com um número reduzido de funcionários porque as pessoas do grupo de risco foram poupadas. Além disso, algumas pessoas ficaram doentes. Primeiro, fechavam a agência que teve algum caso de Covid-19. Agora, estão chamando os gerentes-gerais porque não ganhamos hora extra. A jornada de trabalho é exaustiva, às vezes de 12 horas. O normal era trabalharmos oito horas. Fazemos o nosso melhor, mas parece que ninguém vê isso. Chegamos a atender mil pessoas por dia na agência. Além disso, trabalhamos com medo do vírus e da violência. Graças a Deus não aconteceu comigo, mas soube de relatos de pessoas sendo ameaçadas na fila, casos de clientes dizendo que tinham facas guardadas. Espero que, para o pagamento da segunda parcela do auxílio, as pessoas tenham entendido que não é preciso ir à agência.

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