18/05/2020 19:00

Jair Ferreira, ex-presidente da Fenae, diz que entidades e classe trabalhadora precisam manter a luta contra os retrocessos que os donos do poder e do capital desejam

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Atual diretor de Formação da Fenae concedeu uma entrevista exclusiva para a APCEF/RJ, onde falou sobre os anos na presidência da Fenae, a importância da Caixa 100% pública e os desafios que as entidades representativas dos trabalhadores estão encontrando em meio à atual pandemia. Empregado da Caixa desde 1989, Jair já foi diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa). Na Fenae, ocupou a presidência por dois mandatos (2014 a 2020) e também exerceu o cargo de vice-presidente e diretor de Administração e Finanças da Federação. 

APCEF/RJ - Quais foram os maiores desafios que você enfrentou nos seis anos em que presidiu a Fenae?
J
air Ferreira – Neste período tivemos três presidentes da República, quatro presidentes na Caixa, um golpe de estado, e a recessão, após o impeachment da Dilma. Resistimos e lutamos contra diversos ataques à classe trabalhadora com reformas trabalhistas e da Previdência, privatizações, terceirizações etc. Na Caixa, perdemos 17 mil vagas de trabalhos (éramos 101.500 em 2014 e hoje 83.500), tivemos vendas de ativos e a mudança do papel da empresa.  

Qual o principal legado que sua gestão deixou para a Fenae e para as APCEFs?
Jair Ferreira – Creio que a unidade nas ações, um modelo de governança para gerir o patrimônio, dando tranquilidade para os próximos anos. Investimos nos eventos que valorizaram a interação entre os associados das APCEFs, nos esportes, na cultura, na educação (com a Rede do conhecimento), no Talentos Fenae, além de investirmos nos equipamentos e estrutura das APCEFs, sempre visando o bem-estar do pessoal da Caixa. 

Qual a importância da Fenae e das APCEFs para o empregado da Caixa e associados, principalmente nesse momento de isolamento social que impede o funcionamento das sedes?
Jair Ferreira – O primeiro ponto é a defesa, o fortalecimento nas negociações e reivindicações dos empregados junto à direção da Caixa, para garantir a saúde e segurança dos empregados, dando tranquilidade para ele e sua família. E, também, criando alternativas e projetos para atividades mesmo sem sair de casa, como os jogos virtuais, palestras em rede virtual e convênios que permitam a utilização dos associados sem que precisem sair de casa. 

Em um piscar de olhos surgiu a COVID-19 trazendo em seu bojo novíssimos obstáculos.  Assim, qual a sua análise sobre a conjuntura que envolve a Caixa e seus trabalhadores?
Jair Ferreira – É um momento muito difícil e requer de todos nós muita atenção e cuidados, principalmente com a saúde de todos. A Caixa como uma empresa pública é importante para a sociedade brasileira e está cumprindo muito bem seu papel de atender aos milhões brasileiros que precisam receber os benefícios emergenciais, um direito aprovado pelo Congresso Nacional. Nós, da Fenae e APCEFs, estamos inseridos neste contexto também e foi necessário mudar os costumes e se adequar as ações. Não podemos realizar os eventos de aglomerações como Jogos da Fenae, Corridas Fenae do Pessoal da Caixa, os diversos eventos nas APCEFs - como festas de aniversários, comemorações folclóricas, atividades infantis -, houve mudanças na realização das etapas do Talentos (boa parte será virtual), ou seja, tudo isso impacta nas nossas atividades. Mas estamos nos preparando e criando alternativas, recebendo sugestões de como superarmos juntos esses grandes desafios que a pandemia nos trouxe e vamos superá-los. 

Você acredita que a linha de cobrança das entidades representativas à direção do banco deve ser revista ou elas devem seguir como vinham? 
Jair Ferreira – O nosso papel será sempre de encaminhar, negociar e levar para a direção da Caixa as reivindicações e demandas dos empregados. O fato é que a direção de empresa tem uma política de retirada de direitos, de exigir além da capacidade das pessoas, e assediar os subordinados como uma forma destruir as nossas conquistas e direitos, a exemplo do que ocorre com o governo Federal, que não tem qualquer respeito e consideração pela classe trabalhadora. Infelizmente, só querem o resultado custe o que custar, e cabe às entidades, juntamente com toda classe trabalhadora, lutar contra os retrocessos que os donos do poder e do capital querem. 

Após muita pressão das entidades representativas dos trabalhadores, finalmente Caixa decidiu convocar 296 novos empregados do concurso de 2014. Qual o seu entendimento sobre o fato? 
Jair Ferreira – Nós sempre defendemos mais contratações para atender as demandas de trabalho e principalmente para dar condições dignas de saúde e bem-estar aos empregados. A Caixa dobrou de tamanho, desde 2003, onde tínhamos 2080 agências e 53 mil empregados concursados. Em janeiro de 2015, eram 4100 agências/postos de atendimentos e 101.500 empregados. Hoje, continuamos com quase a mesma quantidade de agências e 83.000 empregados. É só olhar os números de operações da empresa, programas habitacionais, de transferências de benefícios, FGTS, créditos, bancarização, para constatar que faltam muitos empregados e a contratação está muito aquém das necessidades. A atual direção da empresa não tem nenhum compromisso com atendimento da população, sem contar agora com a pandemia. 

Qual sua expectativa sobre futura possível mudança de planos do governo sobre privatização? 
Jair Ferreira – Não acredito que haja uma mudança nos planos, e precisamos permanecer atentos quanto a isso. Mas o papel da Caixa enquanto banco público, que tem uma função essencial nos momentos de crise, ficou muito evidente. Já foram pagos 50 milhões de benefícios. É o que sempre defendemos sobre a importância da empresa pública para a sociedade brasileira. Ou seja, nós, brasileiros e brasileiras, temos que ter claro isso: “o Estado é muito importante nessas horas. O mercado é bom para quem tem dinheiro”.

O Keynesianismo voltou a ser tema frequente em alguns debates. Qual a sua opinião sobre a doutrina e suas possibilidades? 
Jair Ferreira – Hoje está evidente que o papel do estado é fundamental para desenvolvimento do país e cuidar das pessoas. A tese do Estado Mínimo desapareceu e creio que vai demorar para se restabelecer, pois ficou claro que os donos do dinheiro só pensam nos lucros e em socializar os prejuízos. Quando chegou a crise da pandemia, os primeiros a receberem socorro do atual governo e do ministro da Economia foram os bancos e os investidores (quem tem dinheiro). O benefício emergencial, por exemplo, demorou demais e queriam pagar apenas R$ 200,00. Foi com muito custo e a mobilização das entidades sociais e partidos populares é que se chegou em R$ 600,00.

Você hoje é diretor de Formação da Fenae. Quais os principais projetos de sua pasta?
Jair Ferreira – Manteremos nossos projetos e atuação na defesa da Caixa e dos seus empregados. Precisamos ter uma atenção maior para a juventude que chegou na Caixa mais recentemente. Agora começam os enfrentamentos, garantir os direitos, o futuro da profissão, a tecnologia em benefício da população. Vamos nos preparar para os novos desafios pós pandemia, aproximar ainda mais as APCEFs e seus trabalhadores para cuidarmos dos associados, dos nossos espaços de convivência e de nossos familiares.

Deixe aqui a sua mensagem aos empregados da Caixa, em especial aos do Rio de Janeiro. 

Jair Ferreira – Estamos vivendo um momento muito especial, tenso, de incertezas, angústias, mas certos de que sairemos dessa pandemia o mais rápido possível. Sairemos mais solidários com nossos amigos, familiares, colegas de trabalho, como cidadão responsável por um país mais justo e fraterno e confiantes de que juntos somos mais fortes. Meu abraço especial a vocês do nosso querido Rio de Janeiro, que sempre estiveram conosco por uma Caixa mais forte e que respeita seus empregados. 
 

 

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