15/05/2020 12:42

Presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio fala sobre a importância dos trabalhadores e o papel dos bancos públicos durante a crise

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Em entrevista exclusiva para a APCEF/RJ, Adriana Nalesso, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, fala sobre a atuação dos bancos públicos e dos empregados nesse momento de crise, as medidas para solucionar as questões do Auxílio Emergencial, a atuação do governo em meio à crise e muito mais.

Adriana da Silva Nalesso é economista e bancária há 28 anos. Concursada, ingressou no Banco do Estado de Minas Gerais em 1990, onde ficou até a privatização em 1998. Através de sucessão contratual, atuou no banco Itaú e, após isso, ingressou no Sindicato dos Bancários através da secretaria de Saúde. Nalesso também comandou a secretaria de Finanças do Sindicato e foi eleita para a vice-presidência. Em 2015, assumiu a presidência do Sindicato pela primeira vez, sendo reeleita para o segundo mandato em 2018. Atualmente, é presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

APCEF/RJ – A 2ª parcela do Auxílio Emergencial está por vir, o que é necessário ser feito para proteger a saúde de todos?

Adriana Nalesso – Para nós, o atendimento por agendamento seria o mais eficaz, assim evitaríamos as aglomerações. Em negociação, a Fenaban alegou dificuldades para operacionalizar, ainda assim, nossa reivindicação continua em pauta. Já encaminhamos um ofício ao governo do Estado e à prefeitura solicitando reunião, nosso objetivo é envolver os representantes do governo, a fim de discutirmos ações concretas para auxílio nas filas externas. Temos bons exemplos em outros estados onde a Polícia Militar, a Guarda Municipal e a Vigilância Sanitária têm dado apoio. É possível adotar esse procedimento no Rio de Janeiro. A Vigilância Sanitária seria fundamental para esclarecimentos, fornecimento de álcool gel para higienização e medição de temperatura antes da entrada na agência, assim evitaríamos, por exemplo, que alguém com febre expusesse outras pessoas.

 

APCEF/RJ – Um dos caminhos para o governo resolver as aglomerações na porta da Caixa seria descentralizar o pagamento do Auxílio Emergencial, dividindo o processo com outros bancos? Por que isso não acontece?

Adriana Nalesso – Sim, seria uma medida importante e nós já reivindicamos, mas é uma decisão que depende do governo e dos bancos. Os bancos privados não têm demostrado interesse, o que reforça a importância dos bancos públicos em nosso país. O governo é essencial nessa cobrança, os bancos privados poderiam auxiliar, mas infelizmente não depende de nós. Acredito que seria uma forma de reduzir a pressão absurda atual sobre os bancários da Caixa, como também de dar um atendimento mais humano, rápido e eficaz à população que tanto necessita nesse momento.

 

APCEF/RJ – Em sua opinião, o governo brasileiro tem demonstrado preocupação com a saúde dos trabalhadores que não podem fazer isolamento social? Por quê?

Adriana Nalesso – Não, na verdade o governo federal tem se posicionado contrário ao isolamento social, portanto não está preocupado com aglomerações. Se assim o fosse, não teria centralizado o pagamento de quase metade da população brasileira que depende do auxílio emergencial na CEF. É uma situação muito preocupante porque nesse momento evitar aglomerações é fundamental, a fim de garantir que não haja ainda mais a propagação do vírus. A saúde pública já está em colapso, é lamentável que o atual presidente não reconheça a gravidade da situação e ainda faça brincadeiras com o momento, revelando total insensibilidade.

 

APCEF/RJ – Recentemente a Caixa extrapolou todos os limites e decidiu promover a abertura das agências aos sábados. Qual seu entendimento sobre os bancários trabalharem aos sábados?

Adriana Nalesso – Nossa posição sempre foi contrária. Infelizmente, o Ministério Público Federal e o Procon têm autuado a CEF, como se a culpa fosse do banco e seus funcionários. Um absurdo! De acordo com avaliação, quase metade da população depende do auxílio emergencial, não é culpa dos funcionários. É impossível não ter demora no atendimento e aglomerações em filas com o pagamento centralizado na Caixa. A solução para evitar essa situação seria a descentralização do pagamento, mas com esse governo que não reconhece a gravidade desse cenário, tudo se torna muito difícil.

 

 APCEF/RJ – Após muita pressão das entidades sindicais e associativas, a Caixa anunciou a convocação de 296 novos empregados do concurso de 2014. Qual a sua leitura sobre essa conquista? E qual sua opinião sobre a atuação dos bancos públicos frente aos interesses dos bancos privados durante esse momento de crise?

Adriana Nalesso – É muito importante a contratação de novos concursados. Nós sempre defendemos a ampliação do quadro de funcionários, inclusive, em governos anteriores conseguimos garantir em acordo essa questão. Há uma grande concentração do sistema financeiro em nosso país. Os cinco maiores bancos concentram 80% do total de ativos e processos de aquisições, e as fusões permitiram essa situação. Os bancos públicos exercem um papel fundamental, já que nenhum banco privado tem interesse em financiamento habitacional para população de baixa renda, financiar agricultura familiar, pagar seguro desemprego... Os bancos privados visam exclusivamente os lucros, não estão preocupados com a situação dos mais pobres e, com a bancarização no setor, ampliaram seus investimentos em tecnologias e estão fechando agências em várias cidades no país.  

 

APCEF/RJ – Mesmo com arbitrariedades e pressões contra os bancários, é praxe bancos públicos como a Caixa, BNDES e Banco do Brasil se destacarem ainda mais em épocas de crise. Isso ajuda a desmascarar a política de privatização do governo?

Adriana Nalesso – Ajuda a mostrar a importância dos bancos públicos, mas sinceramente, com esse governo acho difícil não manterem a agenda neoliberal, só não sei se dará tempo de implementarem em sua totalidade. Há uma crise política instituída, o autoritarismo do atual presidente é muito preocupante. Porém, é preciso ressaltar que a maioria dos eleitos, embora divirjam da condução do presidente, são favoráveis à agenda neoliberal. Portanto, defendem as privatizações e retiradas de direitos, e já demostraram isso com as votações das reformas trabalhistas, da Previdência, dentre tantas outras medidas que apoiam. Considero de extrema importância as campanhas de valorização das empresas públicas e dos funcionários, pois a maioria da população acaba tendo uma visão equivocada em virtude da quantidade de reportagens que são difundidas na grande mídia. Cabe a nós fazermos esse papel e mostrar a importância dos serviços prestados pelos bancos públicos.

 

APCEF/RJ – Em meio à crise atual que afeta todo o mundo, o Keynesianismo voltou a ser tema.  O que você acha disso?

Adriana Nalesso – Acho que é fundamental a intervenção do Estado, principalmente em momentos de crise. O governo precisa adotar políticas públicas a fim de garantir a manutenção dos empregos, como também auxiliar as empresas, principalmente as micro, pequenas e médias empresas que tendem a sucumbir nesses momentos. O fortalecimento das empresas públicas é fundamental para viabilizar ações concretas para retomada do crescimento econômico. O problema é que esse governo não pensa assim. Se hoje temos quase 90 milhões de pessoas que dependem de um auxílio emergencial, é justamente porque as políticas adotadas até agora atendem a interesses econômicos dos bancos, grandes empresas, latifundiários que têm suas bancadas eleitas e votam de acordo com seus interesses... Essa é uma dura realidade, eles conseguiram vender a ideia de que trabalhadores bem remunerados e com direitos atrapalham a geração de empregos. Colocaram na cabeça das pessoas que é melhor ser um empreendedor, trabalhador intermitente, um trabalhador PJ, um terceirizado, entre outros. O resultado se reflete na realidade atual, crescimento do trabalhador autônomo e a geração de empregos foi de baixa remuneração e precarizada. Assim, continuamos com um percentual altíssimo de desempregados. Antes do surto de coronavírus, eram quase 12 milhões de desempregados e mais de 38 milhões na informalidade e esses dados tendem a se agravar após a pandemia. Esse governo precisa entender que nós, trabalhadores, não somos problema: somos solução. Fazemos parte do ciclo econômico e, se bem remunerados, podemos alavancar a economia.

 

APCEF/RJ – Em termos de conjuntura futura, o que se pode esperar da relação bancos, bancários e clientes após pandemia?

Adriana Nalesso – Não será fácil. Os bancos já vinham investindo muito em tecnologia; e nesse sentido, tudo está sendo testado com antecedência. Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, o processo de ampliação dos mecanismos tecnológicos acelerou. Temos um grande banco do setor que conseguiu implementar atendimento em call center em home office, ou seja, não precisa ter um espaço físico presencial para dar atendimento telefônico ao cliente, pode ser em casa. O teletrabalho tende a ser uma realidade cada vez mais presente. Nossa luta será árdua e difícil, mas acredito que nada é impossível de mudar e que, para superar a crise econômica, é essencial a manutenção dos empregos e nesse sentido, seguiremos firmes na resistência.

 

APCEF/RJ – O que você tem a dizer para os empregados da Caixa, em especial os do Rio de Janeiro?

Adriana Nalesso – O funcionário da CEF tem dado exemplo a outros bancários do setor. Sei que não está sendo nada fácil, o trabalho tem sido extenuante, o risco de contaminação e o receio de levar o vírus para familiares é muito angustiante. Nós estaremos ao lado deles, e junto com as associações, iremos defender e lutar juntos. Os funcionários da Caixa têm toda minha admiração e respeito, que eles tenham muita força para superar esse momento e contem comigo e com o sindicato.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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