21/05/2020 12:39

Diretora de Saúde e Previdência da Fenae fala sobre o descaso da Caixa com os trabalhadores e o empenho das entidades representativas em meio à pandemia

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Em entrevista exclusiva, Fabiana Matheus conversou com a APCEF/RJ sobre o silêncio da Funcef, o descaso da Caixa com a saúde dos trabalhadores e o empenho das entidades representativas no momento atual. Nascida em Bauru (SP), a diretora é formada em Ciências Contábeis, mestre em Economia Aplicada e no ano de 1989, começou a trabalhar na Caixa. Desde então, já presidiu o Conselho Deliberativo Nacional (CDN), foi conselheira eleita da Funcef por dois mandatos (2006 a 2012) e em 2014, foi a primeira mulher a ocupar a coordenação da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa). Atualmente, Fabiana, que já foi vice-presidente e diretora de Administração e Finanças da Fenae, ocupa o cargo de Diretora de Saúde e Previdência da federação. 

APCEF/RJ - Você foi a primeira mulher a ocupar a coordenação da CEE/Caixa e hoje é diretora de Saúde e Previdência da Fenae. Como enxerga a presença feminina na luta por direitos e na ocupação de cargos importantes? 
Fabiana Matheus – O Brasil elegeu um presidente que diz que “ter filha mulher é uma fraquejada” então, a vida que já não era fácil, piorou bastante para nós mulheres. As ocorrências de violência contra a mulher incluindo feminicídio explodiram, a participação das mulheres em órgãos de gestão nas empresas públicas é mínima, em especial na Caixa. No movimento sindical e associativo temos as nossas dificuldades também. Embora a consciência seja maior, precisa avançar muito. Às vezes, ouvimos “piadinhas” bem sem graças, somos rotuladas (como “mandona”, autoritária, desequilibrada), nossa jornada de trabalho também é dupla, tripla... Mas não vamos desistir. 

Como você tem visto o silêncio da Funcef em relação ao fim do convênio com o INSS, já que o quadro afeta diretamente a vida de aposentados e pensionistas? 
Fabiana Matheus – A direção da Funcef tem adotado um silencio “ensurdecedor” para diversos temas, em especial aqueles que são de interesse dos participantes como a questão do convênio do INSS. Aliás, nesse caso, nem disfarçou a satisfação com o fim desse mecanismo pois imediatamente anunciou o corte da margem consignável. Apenas após a pressão dos participantes e a atuação da Previ em reverter, resolveram fazer alguma coisa. Mas o convênio precisa ser mantido, pois o cancelamento trará transtornos ainda maiores aos participantes, ao já sobrecarregado INSS e além disso, comprometerá a arrecadação do Saúde Caixa

Em meio ao caos criado pelo coronavírus e o descaso da Caixa em relação aos funcionários, quais medidas devem ser tomadas para garantir a proteção aos trabalhadores e clientes da Caixa? 
Fabiana Matheus – As entidades têm buscado proteger os empregados da Caixa, mas o descaso da direção da Caixa e a desorganização em relação ao pagamento do auxílio emergencial têm causado sofrimento físico e psicológico nos empregados e nos dirigentes sindicais e associativos. E aqui quero destacar que além proteger a todos, teremos que ter um plano para pressionar a empresa a tratar as sequelas deixadas. Também é importante alertar os empregados contaminados pelo Covid-19 sobre a importância de exigir a emissão do Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), pois além da responsabilidade pelo tratamento de cura, a Caixa é responsável pelo tratamento de eventual sequela deixada. 

Qual é a sua opinião sobre os ataques ao Saúde Caixa, e o fato de muitos - até mesmo os PCDs - ainda estarem sem acesso ao benefício? 
Fabiana Matheus – Simplesmente absurdo e revoltante. O Saúde Caixa vem sendo atacado desde 2016 mesmo sendo superavitário. Sabemos que o que está por trás disso é a tentativa do governo de desonerar a Caixa para torná-la atrativa para a privatização ou o fatiamento das atividades. Temos hoje mais de 2 mil empregados sem o Saúde Caixa - em sua maioria PCDs. Se já seria revoltante em qualquer situação, em meio à uma pandemia que mata quase 1000 pessoas por dia no país, chega a ser desumano. Continuaremos lutando para defender um Saúde Caixa sustentável e Para Todos. 

A Caixa continua indo na contramão das políticas públicas de saúde mental para os trabalhadores. Quais medidas devem ser tomadas para mudar o quadro? 
Fabiana Matheus – A Fenae e as Apcefs têm buscado fazer a parte delas. Nossa campanha “Não Sofra Sozinho”, busca ampliar nossa rede de solidariedade a fim de que possamos atravessar esses momentos da melhor forma possível. Nesta quinta-feira, dia 21, teremos uma nova conversa com a psicóloga Carolina de Moura Grando, que é formada pela PUC-SP, mestre pela Fundacentro em Trabalho, Saúde e Ambiente, e membro do Núcleo de Ações em Saúde do Trabalhador – NAST. A conversa acontecerá às 18h no Facebook da Fenae e convidamos todos a assistir. Importante ressaltar que a direção da Caixa é o grande fator de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores. Em pesquisa realizada no ano passado, cujos resultados entregamos à empresa, já se denunciava um alto índice de empregados vítimas de doenças mentais. De lá para cá, nada foi feito e o quadro tende a se agravar com o descaso da empresa durante a pandemia, seja em relação aos trabalhadores em atendimento ao público nas agencias, seja no teletrabalho.   

Mesmo nessas condições de trabalho, enxerga-se uma enorme dedicação dos empregados Caixa nas agências. Qual é o valor desses trabalhadores na sociedade, principalmente, neste momento?
Fabiana Matheus – Eles sabem da importância do seu trabalho nesse momento para acudir as pessoas que necessitam do pagamento do auxílio emergencial, do FGTS e do seguro desemprego, pois tem muito trabalhador perdendo o emprego nesse momento. Porém, os empregados da Caixa estão sendo desrespeitados cotidianamente, trabalhando em condições desumanas com medo de se contaminarem e contaminarem seus familiares. Diariamente temos notícias de empregados da Caixa que perderam a vida pelo Covid-19. Essas pessoas são imprescindíveis na vida da população e não têm o respeito merecido. 

Como você enxerga a forte atuação das empresas públicas, principalmente, diante de uma crise igual à que o país atravessa? 
Fabiana Matheus – Não sou otimista. Esse governo tem um direcionamento bem claro sobre o enxugamento do estado. Se a Caixa se sair bem, vão querer vender porque é uma empresa grande, de muito valor e nesse momento de reconstrução do país precisarão de dinheiro. Se a Caixa se sair mal – e estão fazendo de tudo para isso – vão querer vender porque é uma empresa que “foi incapaz de realizar a tarefa dada”. E nesse cenário, a importância da mobilização em defesa da Caixa, do Banco do Brasil, da Petrobras e todas as empresas públicas está redobrada. Precisamos defender o Brasil, nossa Soberania e a nossa Democracia. 

Registre a sua mensagem aos empregados da Caixa.
Fabiana Matheus –
 Tenho orgulho de fazer parte desse conjunto de trabalhadores e quero muito que tudo isso acabe logo. E enquanto não acaba, saibam que estamos todos juntos e que atravessaremos essa tempestade ainda mais fortalecidos e unidos. Cuidem-se! 

 

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